Elfen Lied - Uma crônica sobre gosto e qualidade
Animes
em si costumam gerar muito debate entre seus fãs. Por algum motivo que
desconheço, é como se não existisse obra unanime no universo otaku. Isso é bem
notável ao ler um pouco sobre Evangelion. Algo que acredito que contribua para
isso é a pouca noção entre a diferença entre gosto e qualidade.
Um
anime em que pude notar bem isso foi Elfen Lied. A animação conta a história de
Lucy, uma diclonius, seres que são algum tipo de forma evoluída dos humanos e
que possuem poderes telecinéticos (chamados de vetores no anime). Esta espécie
é mantida em segredo por corporações científicas, que as estudam sem o menor
grau de ética em suas pesquisas.
Traía essa mulher pra ver o que te acontece... |
Lucy é
considerada uma das mais perigosas, pois é a única que pode se reproduzir
(inclusive com humanos), e é dado como certo pelos cientistas que os diclonius
irão ultrapassar em números a espécie humana em cerca de 20 anos. O primeiro
episódio começa com ela escapando da corporação, promovendo um massacre pelos
corredores do prédio, e levando um tiro na cabeça no final de sua fuga. Por
sorte, ela usava um “capacete”, que acabou por amenizar o impacto, afetando sua
memória e por conseguinte, desenvolvendo uma segunda personalidade, dócil,
denominada Nyuu. Não tarda muito para ela acabar encontrando dois
universitários, Kouta e Yuka, que passam a cuidar dela.
Yuka e Kouta |
Lucy em sua forma kawaii: Nyuu |
O
anime tem uma premissa bem interessante até, tendo inclusive inspirado a
história de Eleven, a protagonista de Stranger Things (os próprios diretores da
série afirmaram). Não demora muito para sermos introduzidos a outros
personagens, como Nana, Mayu, Kurama, entre outros, e cada um tem um certo
desenvolvimento, satisfatório até para a maioria deles.
Mas
confesso que me decepcionei com Elfen Lied. O anime (que conta com uma fanbase
relativamente numerosa e sólida na internet) me deixou bem contente em seus 5,
talvez 10 primeiros episódios, mas ele se perde ao longo da série, começando
pelo ecchi que não seria necessariamente algo ruim (vendo que temos até um
gênero disso), mas ele descaracteriza totalmente a obra. Não seria algo
prejudicial se fosse algo leve, mas na proporção do que é mostrado no anime...
retira completamente o tom sério da obra.
Outra
questão também é a violência. Lembro-me de ter lido antes de assistir a
animação que era havia um gore violento na série, o que até tem, mas não chega
a ser o que esperava. É claro, vemos litros e litros de sangue sendo derramado
em todo episódio, mas além das cenas não terem muito peso dramático (exceto em
determinados momentos), ainda por cima chega a ser algo um pouco caricato.
O
ponto em que eu gostaria de chegar é sobre a temática da história, que eu acho
muito interessante, mas é aonde o anime acabou me frustrando. Elfen Lied a
princípio me parecia uma obra que discutiria um pouco acerca da maldade que
existe em nós, sobre o quanto abusamos uns dos outros, e o quão violentos ficam
aqueles que são abusados. Também há uma certa discussão sobre a dificuldade que
aqueles que vivem à margem da sociedade sentem, meramente por serem diferentes.
O
problema é que o anime não consegue sustentar isso. Mesmo insistindo no assunto
(o que eu acho louvável), aos poucos Elfen Lied vai transformando a temática em
um drama um pouco batido. Contribui MUITO para isso a música tema do anime, que
é socada no ouvido do espectador o tempo inteiro, contribuindo pro clima de
“forçassão de barra”. Justamente por isso a crítica para o nível de ecchi na
obra, que mesmo não sendo descarado, fortalece a perda da suspensão de
descrença.
AI MEU DEUS EU QUERO ELA DE ESTIMAÇÃO!! |
Obviamente
que o anime tem ótimos elementos, a começar pelo visual e a animação que eram
ótimos pra época (confesso que tenho uma certa queda pela Nyuu). O romance da
obra não é mau construído, tanto que acho a relação entre o protagonista e a Yuka
boa até (o ciúme que ela sente, eu acho bem convincente). Fora o arco que conta
o passado de Lucy, que eu acho que é o grande ponto alto do anime, porque é ali
que a ilustração sobre crueldade e intolerância é melhor trabalhado.
Essa caixinha me tirou um pouco a paciência... |
Apesar
de ter feito muitas críticas, não posso dizer que não gostei de Elfen Lied. Me
diverti e tenho que dizer que me emocionei com o final da obra (no momento em
que finalmente a música tema surtiu um efeito em mim). Acontece que não achei
tão bom quanto vi em várias páginas da web em que li sobre. Não li o mangá, mas
pelo pouco que sei dele, me parece mais bem resolvido.
Aliás,
esse é um ponto chave deste texto. É como se no mundo do entretenimento não
houvesse um meio termo entre o bom e o ruim. Para os amantes da dramaturgia, é
como se tudo tivesse de estar em um dos extremos. Já vi pessoas falando sobre o
anime em questão, dizendo que é um dos melhores do gênero de terror, sendo que
nem terror ele apresenta.
Fico
longe de dizer que Elfen Lied é ruim, aliás, pelo contrário. Porém, não sei se
recomendaria ele sequer para os fãs de Seinen, muito menos dizer que é uma obra
obrigatória do gênero.
Adendo 1:
Recentemente vi que há um OVA que se passa entre os episódios 10 e 11 do anime, e que foi lançado cerca de 1 ano após o termino da adaptação (em 2005, mesmo ano que o mangá terminou). Vou dar uma olhada nele.
Adendo 2:
A música Lilium, da opening do anime, é espetacular (o único problema é tocarem ela no anime como se não houvesse outra música), vou até deixar no artigo um vídeo de um grupo musical apresentando a música.
Elfen Lied - Uma crônica sobre gosto e qualidade
Revisado por Unknown
em
sexta-feira, março 24, 2017
Nota:
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