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Neon Genesis Evangelion – O dilema de um protagonista


Num futuro próximo, em que o planeta se encontra terrivelmente arrasado e com poucas perspectivas para a melhora, um adolescente solitário e depressivo é chamado por seu pai para trabalhar em sua empresa. Levado pela pessoa a quem lhe foi confiada sua proteção, descobre que seu pai na verdade quer usá-lo como uma ferramenta, para utilizar os chamados “Evangelions”, robôs gigantes construídos para destruir a ameaça dos Anjos.
Essa é a premissa de Neon Genesis Evangelion. Aqueles que nunca assistiram a série podem imaginar que se trata de uma jornada de superação, um enredo que segue a grande maioria de shonens existentes, em que nosso querido protagonista vence seus inimigos tanto fora quanto dentro de sua mente. Mas não, Evangelion não se trata de mostrar esperança, mas sim dor, sofrimento, e a crescente sensação de tristeza que existe em cada um de nós.
Evangelion possui uma base de fãs gigantesca no mundo todo, incrível ainda pensando do ponto de vista que sua história não é nada didática e muito complexa (não que isso seja um problema). Mas, não é difícil perceber que este é um anime “ame ou odeie”. Também existe um grande número de otakus que não possuem lá grande simpatia pela obra. Principalmente pelo desgosto gerado por Shinji Ikari, o “herói” da saga.

Provavelmente ele não esperava por um elogio...

Ora, não é difícil entender isso. Shinji é o mais perfeito retrato de uma pessoa vencida, que não possui motivos sequer pra tentar ser feliz. No anime, vemos um esboço de superação, um caminho para sua vitória. Mas infelizmente isso é interrompido por uma “grande tragédia” (no que pra mim é o episódio de anime mais triste já feito).
Apesar de compreender o sentimento coletivo de raiva, não concordo com ele. Aliás, sinceramente, para mim uma das maiores genialidades de Hideaki Anno foi a concepção de Shinji. Lembrem-se que Evangelion foi produzido após um recente diagnóstico de depressão em Anno, que ao contrário do que muitos pensam, é uma doença necessária de acompanhamento de medicação... O autor da obra transformou seu anime em uma alegoria sobre sua condição.
Observe o background do personagem. Quando criança, perdeu a mãe e foi rejeitado pelo pai. Esse acontecimento explica muito bem a falta de amor próprio de Shinji. Afinal, é de nossos pais que recebemos a primeira demonstração de carinho e afeto, e que nos é mostrado que merecemos sermos amados.
Ao ser usado por Gendo, e posteriormente se ver em uma guerra em que aquilo que restou da humanidade está em suas mãos, seria fácil qualquer adulto com uma consciência saudável perdem a própria razão. Mas Shinji não se enquadra nesse tipo de pessoa, sendo apenas um rapaz de 14 anos, no início da puberdade, e com sérios problemas psicológicos...
Ao passar a viver com Misato, é que sua vida passa a ganhar outros contornos, um tanto confusos, afinal, o garoto que poucas vezes viu uma demonstração de amor verdadeira, passou a conviver com alguém que claramente se importava com ele. Não obstante, surgem outras duas pessoas que causam grande impacto em sua vida, Asuka Langley Soryu e Rei Ayanami.
Acredito que muitos não entendem o dilema de Shinji, que mesmo convivendo com 3 beldades, sendo que 2 claramente demonstravam afeto e preocupação com ele (de certo modo é claro). Mas, vejamos um pouco sobre a psicologia de cada uma delas (não que eu seja um especialista ou coisa do tipo...)

                                                 Asuka Langley em seu EVA

Dentre todas, Asuka é a mais fácil de se compreender. Ao demonstrar uma personalidade forte, e um aparente desprezo por Shinji Ikari, esconde em si ser uma garota ainda mais frágil, tendo que crescer por conta própria na ausência da mãe, morta. Acredito que essa fraqueza fica ainda mais evidente ao demonstrar uma necessidade de ser desejada pelo rapaz. Afinal, como um ser tão inferior a ela não lhe admira e a quer para si? No fim, mesmo detendo uma coragem e valentia incríveis, Asuka talvez seja menos sensata que Shinji.

A Misato na NERV é bem diferente de quando está em casa...

Já Misato Katsuragi, que para mim é uma das personagens mais fortes da cultura pop, é muito semelhante a Ikari. Perdeu seu pai cedo, em uma expedição cientifica que envolvia os Anjos, o que a fez criar uma extrema raiva por eles.
Misato cresceu tão triste quanto Ikari. Mas, sua maturidade lhe revelou um belo disfarça para isso: a superficialidade. Devido a seu medo de se relacionar com as pessoas, ela cria laços superficiais com elas, não admitindo nenhuma grande responsabilidade fora do trabalho, nem mesmo ao aceitar cuidar do garoto (tanto que este é quem cuida dela, para ser mais exato). É espantosa a diferença no comportamento dela quando está dando ordens aos pilotos dos EVAs.
Ainda assim, claramente Misato demonstra um amor “quase” maternal por Shinji. No começo do anime, a mesma aparenta um certo sofrimento pela breve partida dele, em que a própria admite se ver no papel de sua mãe. Porém, ao longo dos episódios, e com o filme The End of Evangelion (polêmico a beça...) nós vemos duas cenas no mínimo estranhas... quando Misato oferece seu corpo como incentivo para Shinji continuar a lutar (logo após AQUELA tragédia), e a famosa cena do beijo vista no filme.
Mesmo com tudo isso, Shinji ainda não sentia proteção estando junto dela. Não pela sua falta de responsabilidade, mas sim porque a própria admitia sua vontade de se auto-degradar, apenas para fugir de seu vazio interior. Mesmo que sendo verdadeira, nem mesmo Misato sabia como expressar seu amor maternal por Shinji, tendo de usar seu corpo escultural para fazê-lo lutar. Afinal, ela não conhecia outra maneira de demonstrar seu sentimento. Como ele poderia saber que ela dizia a verdade? Como um garoto de 14 anos estaria preparado para isso?

                                                          Rei Ayanami e sua expressão típica.

E por fim, temos Rei, a personagem mais difícil de se analisar em Evangelion. Eu gosto de pensar nela como uma espécie de antítese para os outros personagens. Muitas vezes, quando nos encontramos em um estado de grande fragilidade emocional, pensamos que talvez fosse melhor abstermos totalmente das emoções, nos blindando de decepções e tristezas. Rei é a personificação dessa hipótese. Uma pessoa que vive como um robô, realizando apenas o necessário para continuar vivendo, vivendo apenas para continuar seu dever, sem sentir nada, sem nem saber se realmente é humana.
Vemos ela realizando este questionamento algumas vezes no anime. Como pode uma carapaça vazia como ela se igualar as outras pessoas? E com isso, vemos que isso traz certa melancolia a personagem. O aparecimento de Shinji, que demonstra compaixão, afeto, e até certo entendimento de sua situação, provoca o aparecimento de emoções raramente sentidas por Rei.

                                           Uma rara expressão de felicidade

O que ela não sabia é que a própria melancolia trazida por sua crise existencial era uma prova de que ela era tão humana quanto Misato ou Asuka. Ao encontrar uma pessoa tão frágil quanto ela, mas que era capaz de lhe dar amor, Rei passa a ter não só uma função como piloto do EVA, mas também um propósito, que é o de proteger Shinji, mesmo que com sua vida.
E é justamente Rei, quem causa a breve ascensão de Shinji Ikari, e também seu longo sofrimento na segunda metade da série. O garoto se identifica com Ayanami, a ponto de ser capaz de reconhecer que é capaz de amar, o que é recíproco, com ela sentindo os mesmos sentimentos por ele. Não vou entrar no mérito de qualificar esse amor, se havia uma certa atração sexual entre os dois, e nem entrar no aspecto freudiano da relação deles (Hideaki usa sua séria para demonstrar várias teorias de Freud). Mas o fato é que ambos possuíam um grande afeto um pelo outro.
A morte da personagem, no que pra mim é episódio mais trágico de toda a franquia (até mais do que o final de The End of Evangelion) é o que causa um colapso em Shinji. Ao ver seu pai ordenando que a mesma exploda seu EVA, e lhe sendo negada a possibilidade, mesmo que mínima, de salvar a garota, Ikari sente que lhe foi tomada a única fonte de amor mutuo que recebia. O posterior descobrimento de que a mesma era apenas um modelo replicado por seu pai, um clone, somente agrava a situação, transformando sua cabeça em um turbilhão.
O mesmo ainda vê uma possibilidade de recuperação com o aparecimento de Kaworu Nagisa, mas os acontecimentos posteriores, a obrigação em mata-lo, apenas terminam de sepultar essa pequena esperança que o garoto tinha.
Após todos esses acontecimentos, é natural entender que Shinji não havia motivo nenhum para continuar vivendo, ou de lutar pela vida dos outros. Pelo menos, seria o pensamento natural na mente de alguém que passou por tudo isso.

Aqui vocês podem ver uma pessoa em plena saúde mental...

Mas acredito que, um dos objetivos de Hideaki Anno era de que as pessoas odiassem Shinji, por mais estranho que isso pareça. Nós, desde crianças, crescemos com a constante lição de que temos o objetivo de sermos felizes durante toda a vida. Ou pelo menos, na maior parte dela. Não é considerado um pensamento natural que a felicidade talvez seja um momento, uma emoção, e não algo que deva ser constante.
Por isso, criamos justificativas para que alguém não se sinta feliz, para que alguém possa admitir esse sentimento. Essas justificativas seriam o abandono, a pobreza, uma limitação física, a falta de um teto para morar, entre outros. E ao vermos alguém que tem uma vida semelhante à nossa e que não se enxerga completa em si mesma, temos a tendência de rejeita-la, sob o argumento que ela passa uma “energia ruim”, quando na verdade, nós afastamos de pessoas assim porque não queremos nos lembrar de que possivelmente somos tão vazios quanto elas. Tão vazios quanto Shinji Ikari.
Retomando o começo do texto, Neon Genesis Evangelion pode ser entendido como uma grande alegoria da depressão, ou mais precisamente, de alguém que se enxerga afundado na depressão, e o desespero que isso traz. Mas não se preocupe, se você, assim como eu, é um fã do anime, e gosta da possibilidade de um final feliz para a história, existe o Rebuild of Evangelion para isso.
Neon Genesis Evangelion – O dilema de um protagonista Revisado por Unknown em sexta-feira, fevereiro 17, 2017 Nota: 5

4 comentários:

  1. Bom texto! Realmente podemos entender que o Shinji fez escolhas erradas, mas não é um grande vilão por conta delas a merda é que não consigo perdoar ele pela minha querida Misato

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    1. Hahhaha. Confesso que eu tive que ponderar muito pra deixar isso de lado rs

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  2. Ok que ele é um cara deprimido e isso é desculpa para varias coisas que ele fez, mas o episódio da Asuka em coma destruiu o personagem para mim, vou sempre sentir nojo dele

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    1. Essa cena me deixa muito em dúvida. Acredito que o Anno tenha feito ela como mais uma das "alegorias conceituais" dele (se é que pode ser colocado assim)... Talvez pra mostrar a deturpada maturidade sexual dele (dado todos os acontecimentos da série, e o crescimento do Shinji em meio a tudo isso). Mas confesso que eu também acho essa parte meio sem nexo... Mas uma coisa é certa, se ele tivesse excluido essa cena do filme, ele não teria gerado nem metade da polêmica que gerou rsrs

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